Mapeando o novo território

- tendências para 2021 (and beyond) -

Patrícia Scherer Bassani
7 min readMar 31, 2021
https://www.instagram.com/p/CMxdKPFMsnS/?utm_source=ig_web_copy_link

O SXSW (South by Southwest) é um evento que acontece anualmente em Austin, Texas. O evento envolve conferências e festivais, integrando música, arte e tecnologia. As conferências tem como tema principal inovação & tecnologia. Assim, podemos dizer que o SXSW é um espaço anual de divulgação de tendências.

Vários institutos de pesquisa aproveitam o espaço para divulgar relatórios de tendências.

Vou compartilhar por aqui as tendências identificadas pela Fjord, a divisão de Design e Inovação da Accenture Interactive, uma agência de experiências (business experience), que é um “braço” da Accenture.

O relatório 2021 elaborado pela Fjord (https://www.accenture.com/us-en/insights/interactive/fjord-trends) destaca 7 tendências. Vou apresentar cada uma delas.

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Trend 1: Collective displacement (deslocamento coletivo):

A pandemia provocou o deslocamento coletivo, mas o que é isso? As coisas mudaram de lugar e a vida ficou essencialmente centralizada em casa e, a partir da nossa casa, vivenciamos novas e diferentes experiências: home office, ensino remoto, compras on-line, ginástica a distância, entre outras!

A pandemia global deslocou a forma tradicional de como e onde trabalhamos, aprendemos, fazemos compras e nos divertimos — e até mesmo onde vivemos, pois os espaços íntimos da casa foram visualizados em múltiplas webconferências, ou ainda tiveram que ser remodelados para dar conta dessas diferentes atividades.

O relatório divide o deslocamento coletivo em 3 três categorias: lugar, atividade e deslocamento comunitário .

O deslocamento de local inclui a mudança do lugar de trabalho de um escritório para o trabalho remoto, ou ainda a mudança para uma nova casa.

O deslocamento de atividade envolve a mudança na forma como as pessoas fazem as coisas.

O deslocamento da comunidade mudou a composição das pessoas ao nosso redor. Atividades como shows, festas e eventos esportivos foram substituídos por atividades individuais ou pequenos.

Esse deslocamento coletivo teve um grande impacto no comportamento das pessoas e, por isso, muitas empresas e organizações devem enfrentar o fato de que os clientes mudaram. E agora?

É preciso repensar as estratégias a fim de oportunizar experiências descoladas dos espaços físicos que estávamos todos acostumados!

Quais os desafios?

Primeiro, é preciso entender que a forma de acessar a informação mudou! É preciso buscar novas formas de ficar visível!

Segundo, as compras se pulverizaram em muitos micro momentos espalhados ao longo do dia e entre diferentes dispositivos. Também será necessário substituir (ou replicar) o toque físico usando digital.

Por fim, as marcas devem buscar recriar as experiências de "fora de casa" para o novo contexto — seguimos em casa — com novos dispositivos, ou seja, buscar formas de proporcionar alegria por meio de abordagens imersivas.

Difícil, não? E esta é só a primeira tendência!

Trend 2: Do it yourself (DIY) innovation (faça você mesmo)

O movimento do Faça você mesmo vai ao encontro da ideia de que a inovação não é impulsionada apenas por tecnologia de ponta e dispositivos, mas também é um produto da engenhosidade das pessoas em circunstâncias desafiadoras. Portanto, as organizações precisam repensar suas abordagens sob a perspectiva da inovação, oferecendo ferramentas em vez de prescrever soluções prontas, e capacitando as pessoas a serem mais criativas com a forma como vivem.

A pandemia fomentou ações de empreendedorismo, uma vez que muitas pessoas começaram a realizar atividades durante o período de isolamento, que agora começam a se converter em carreiras efetivas. Nessa perspectiva, as plataformas digitais, principalmente o YouTube, Instagram e cada vez mais o TikTok, estão permitindo que as pessoas monetizem sua criatividade. Essas plataformas digitais são ambientes que facilitam a criação de conteúdo e o alcance de muitos clientes em potencial.

Assim, o relatório aponta que as organizações devem encontrar uma maneira de se juntar à revolução do it yourself.

Para tanto, é preciso reconhecer que os limites entre inovação e criação, e entre criador e cliente, não são mais tão claros.

Uma sugestão? Pense nos clientes como co-criadores! Quais elementos de sua experiência poderiam ser co-criados?

Trend 3: Sweet teams are made of this

A tendência #3 fala sobre as diferentes configurações nos modelos de trabalho.

Para muitos de nós, trabalhar em casa passou a ser morar no escritório. A experiência remota fez muitas organizações efetivamente repensarem diferentes opções.

O relatório aponta que, com certeza, o futuro não será único e é possível que a experiência do funcionário seja diferente para cada organização.

Será efetivamente o fim do one size fits all (um tamanho serve para todos)?

Essa mudança não impacta apenas aqueles trabalhadores que agora estão em casa — é importante destacar que o (não) deslocamento dos trabalhadores afeta também muitas pessoas! Pense na lancheria onde você costumava comprar café e nos demais serviços que você utilizava ao longo do percurso até o escritório!

O relatório aponta oportunidades para os empregadores inovarem em quatro áreas principais: investir em processos de transformação digital; repensar a cultura da colaboração à distância; aplicar novas formas de valorização de talentos; garantir a produtividade e a privacidade dos funcionários à distância.

Existem inúmeras oportunidades e possibilidades! O que é “normal” no trabalho que também deve estar presente em casa? O que pode ser alterado/melhorado uma vez que o cenário mudou? O desafio consiste em projetar soluções (tecnologia e cultura organizacional) para o trabalho flexível e também resiliência!

Trend 4: Interaction wanderlust

A tendência #4 fala sobre as diferentes experiências mediadas por telas.

A pandemia fez ampliar o número de horas na frente de telas para interagir com o mundo exterior e percebemos as fragilidades do design dos softwares — mais do mesmo.

Conforme o relatório, essa falta de inovação nas propostas de interação remota/a distância faz com que o tempo de tela, em constante expansão, seja uma tarefa árdua.

A fadiga da tela é o resultado da falta de sinais não-verbais e de uma dependência excessiva de informações verbais. Isso aumenta nossa carga cognitiva tornando as reuniões on-line mais cansativas do que as presenciais.

Como melhorar nossas experiências? Esse é o desafio!

O relatório destaca que as marcas que repensarem os modelos de design podem alcançar a diferenciação, uma vez que o público pode encontrar uma experiência na tela tão atraente quanto uma experiência no mundo real.

Vale a pena buscar inspiração nas plataformas de jogos, plataformas sociais e ambientes de realidade aumentada e/ou mista.

Trend 5: Liquid infrastructure

Novos padrões de comportamento de compras exigem novas formas de venda e entrega de produtos, certo?

O deslocamento coletivo mudou a forma como as pessoas experimentam e compram produtos e serviços. Esse cenário exige novos modelos de negócios.

As expectativas dos clientes estão gerando uma série de desafios importantes e urgentes que as empresas devem trabalhar para enfrentar. Por exemplo: necessidade maior de divulgação/marketing; o gerenciamento de custos e serviços relativos e entrega, como embalagem e transporte, além da presença de outros participantes business-to-business.

Há uma tendência de crescimento dos modelos de assinatura, como assinatura de café, vinhos, livros, frutas e verduras orgânicas, entre outros.

A demanda por personalização apresenta uma oportunidade importante, mas isso exige que as cadeias de suprimentos sejam mais flexíveis e responsivas.

O que você pode fazer diferente?

Trend 6: Empathy challenge

A tendência #6 destaca o alinhamento entre o propósito e a comunicação.

As pessoas estão cada vez mais preocupadas com o propósito e com a ética das organizações para as quais trabalham e cujos produtos ou serviços usam.

Portanto, como as organizações devem gerenciar as narrativas que usam para moldar suas marcas para responder às polaridades emergentes rapidamente?

O relatório sugere que as empresas precisam de uma nova abordagem que combine pragmatismo com empatia, e que garanta que elas sigam suas intenções de fazer o bem — qual lado da história apoiar? É preciso posicionamento!

No entanto, empatia não é apenas ouvir e nem é um exercício isolado. Empatia é uma maneira de se comportar.

O que fazer? Pense de forma articulada o design e a comunicação, para efetivamente fechar a lacuna entre o que você diz e o que você faz.

Trend 7: Rituals lost and found

A tendência #7 alerta para a necessidade de novos rituais de bem viver considerando a nova rotina.

As experiências emocionais compartilhadas em torno das tradições (sejam elas associadas à perda, celebração, cerimônia ou rotina) promovem a integração entre famílias e amigos, no trabalho, nas comunidades locais e na sociedade em geral.

A tendência aponta que as organizações devem identificar como podem ajudar a construir novas maneiras de as pessoas enfrentarem os desafios impostos pelo isolamento social. Como? As marcas devem trabalhar para entender o espaço em branco deixado por um ritual perdido para oportunizar experiências que possas substituí-lo.

O relatório destaca 4 tipos de rituais que as marcas devem considerar: ritual como um portal para novas e diferentes experiências, ritual como senso de pertencimento, ritual como conforto e, por fim, ritual como âncora (para reimaginar âncoras emocionais).

É importante lembrar que qualquer ritual criado/proposto por uma marca deve estar vinculado ao seu propósito.

Quanta coisa, não?

O relatório Fjord Trends 2021 tem, como tema principal, mapear o novo território. Muitas mudanças foram aceleradas pela pandemia e 2021 definirá o século 21.

Precisamos olhar para a frente! Meu desejo? Te ajudar a entender o cenário, por que a gente precisa mudar o mindset para sobreviver ao/no futuro! ;-)

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Patrícia Scherer Bassani

Professora do PPG em em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale. Abordo temas e dilemas da vida digital :-) https://linktr.ee/patriciab