Ver e visualizar — diferentes nuances do olhar
Me dei conta da diferença entre ver e visualizar pela primeira vez quando estava lendo o livro El sol desnudo de Asimov, nas férias, andando de trem pela Espanha.
No livro, há uma conversa entre dois personagens, que destaca essa diferença. Ver envolve proximidade, possibilidade de tocar o outro.
Dias atrás eu estava lendo o livro No enxame: perspectivas para o digital, do filósofo coreano Byung-Chul Han, e novamente aparece essa ideia de que os ambientes digitais não nos permitem “olhar um ao outro”.
Fiquei pensando nisso a partir de 2 perspectivas diferentes: a aula on-line e as imagens que compartilhamos nas redes sociais.
Sobre a aula on-line, sinto falta do visualizar…os alunos não compartilham a câmera, por diferentes razões, e sinto que a tela é um espelho. Vejo minha própria imagem…a presença do outro parece distante.
Nas reuniões on-line normalmente a gente consegue visualizar os colegas. Entretanto, preciso concordar com Han (2018) quando ele destaca a assimetria do olhar. Cada sujeito olha para um lugar diferente na tela.
Sobre as imagens que compartilhamos nas redes sociais, fica a dúvida…quem visualiza a minha imagem consegue efetivamente saber quem eu sou? Quantos filtros separam quem realmente somos daquilo que todos podem visualizar?
Ver e tocar, visualizar e imaginar…interessante, não?
A área de pesquisa que foca nos estudos sobre colaboração on-line se chama CSCW — computer suported collaborative work ou trabalho colaborativo apoiado por computador. No Brasil, chamamos de Sistemas Colaborativos.
A área de Sistemas Colaborativos é bem abrangente e interdisciplinar. Um sistema é dito colaborativo quando se constitui em um espaço para convivência, o qual oportuniza a interação entre os sujeitos, além de possibilitar experiências capazes de atrair e manter frequentadores (Nicolai-da-Costa; Pimentel, 2011).
No cenário atual, marcado pela pandemia, o uso de sistemas colaborativos se intensificou. Esses ambientes possibilitam a conversa on-line, o compartilhamento de documentos, entre outras coisas. Por outro lado, nem sempre possuem uma interface que acolhe o sujeito.
Com certeza um sistema colaborativo não oferece o sentimento de presença das trocas face a face, mas certamente veremos o desenvolvimento de sistemas cada vez mais imersivos.
;-)
Referências
HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas para o digital, do filósofo. RJ: Vozes, 2018.
NICOLACI-DA-COSTA, A. M., PIMENTEL, M. Sistemas colaborativos para uma sociedade e um novo ser humano. In: PIMENTEL, M. FUKS, H. (orgs). Sistemas Colaborativos. RJ: Elsevier, 2012. p. 3–15.